14 de outubro de 2010

12 pontos masterizados

Hoje, eles se foram.
No meio da 1ª aula, chegaram de mansinho, pedindo desculpas por me tirar a atenção de uma questão. Disseram que estavam orgulhosos de mim hoje, de mim ontem e de mim de muito antes.
Pediram para eu ser uma boa garota, não chorar por nada que não merecesse, continuar me esforçando e ser feliz. Pediram para continuar cantando.
Eu disse que não iria aguentar se eles fossem agora, pedi mais tempo. Mas eles disseram que já estava na hora sim. Eu disse que ia me sentir sozinha sem meu "santuário".
Mas eles disseram que não eram o santuário. Eu o era. A minha mente o era. E repetiram aquele velho ensinamento.

Continue criando, Viviane, porque é isso que a faz feliz. Sempre que precisar, tudo o que você criou vai estar aí, guardadinho nessa cabecinha desmemoriada. Nós também, você sabe. Mas só vamos servir para mais uma coisa, o que você prometeu. Vamos estar esperando.

E aí as vozes se foram, os rostos se foram. Só eu e minha voz forçando para preencher o espaço que a voz deles ocupava. Tentando entender o que era essa forma nova, percebi que às vezes a voz muda um pouco, mas ainda é a minha. Então nunca mais, hein?
Mas eu vou me esforçar. Percebo agora que vocês foram o que eu precisava, e por ter completado o que tinham para fazer, tinham de ir embora.
Vocês eram o que me faltava para, de uma mera sacerdotisa, virar a senhora.

Aquele homem alto e sorridente era a responsabilidade que eu tanto prezo.
Aquela mulher carinhosa era a honestidade. Não é a toa que só ontem lhe vi mais nitidamente.
Aquele homem reservado era a coragem acima do medo. Por isso sempre parecia estar iluminando tudo?
Aquele rapaz irritado era a obstinação. Esse eu acho que aprendi bem, por mais que não pareça.
Aquela mocinha animada era a feminilidade. Desculpe por ter demorado tanto para lhe aceitar.
Aquele rapaz calmo era a aceitação. Tanto de mim quanto dos outros.
Aquela moça calada era o cuidado. Virou quase um instinto meu, talvez porque me foi passado sem palavras.
Aquele garoto adorável era a alegria. Como um tolo que não sabe das regras, sempre fazendo porque nunca achou que não conseguiria.
Aquela garota tímida era a força de vontade. Sempre apoiando qualquer pequena escolha.
Aquele garoto exibido era o orgulho. Das minhas qualidades e defeitos, do que eu podia fazer ou podia morrer tentando.
Aquela garota avoada era a humildade. Para perguntar, para pedir, para errar tantas vezes quantas necessárias.
Aquele menino, eu não sei. Provavelmente só vou saber quando conhecer o meu próprio "pequeno príncipe". Ou talvez nem assim. Mas sinto que aprendi também algo com ele.

Se foram porque achavam que não havia mais nada a ensinar ou porque eu sinto que já posso continuar sozinha. Sem muletas ou mãos segurando. Eu aprendi direitinho. Ou pelo menos aprendi a começar a aprender.
E eu agradeço. À quem? À pequenina sacerdotisa que os criou para mim? À garota que me fez ver que só os estava segurando por puro capricho? A eles?
Talvez agradeça a tudo. É, Tudo parece bom.

E agora eu estou sozinha. Mas também acompanhada. Algo muito incerto, mas que não me parece ruim. Na verdade, eu sempre quis viver de um modo incerto. Sempre me pareceu um modo mais digno de se viver.


Não precisam se esforçar pra entender. Só coloquei aqui porque queria guardar para sempre esse dia.
Ouvindo: Happy Days Are Here Again - Glee Cast
Falando com: Ninguém